terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A Psicanálise na Terra do Nunca

A revista Crescer traz um Teste interessante baseado no livro Psicanálise na Terra do Nunca do casal Corso. A idéia é super criativa, através de algumas perguntas, que nos fazem refletir sobre o convívio familiar, pode-se ver com qual família da TV a gente se parece. Eu já fiz o meu teste...
Link do teste:
http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI203068-17759,00-A+SUA+VIDA+NA+TV.html

Diana e Mário Corso são graduados em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se conheceram. Eles são especialistas no campo da psicanálise infantil e de adolescentes. Sua obra anterior, Fadas no Divã, dedicava-se à análise dos contos para crianças, no mesmo estilo do célebre psicólogo austríaco Bruno Bettelhelm.

A leitura sempre foi considerada o melhor caminho para abrir as portas da fantasia. Mas as histórias podem ir muito além do que se imagina: caminham nas entrelinhas do inconsciente. No livro A psicanálise na Terra do Nunca (Editora Penso), de Diana e Mário Corso, os autores procuram mostrar os mecanismos da fantasia, como ela funciona e qual a utilidade para a subjetividade do leitor.
Os Corsos afirmam que é nas esferas literárias e cinematográficas que o ser humano vai encontrar a plenitude de suas vivências, pois nas obras ficcionais os personagens representam os maiores desejos e as expectativas mais comuns do Homem, daí o vínculo identitário que ele estabelece com estas figuras imaginárias. A fantasia atua como um dos principais fatores de constituição da subjetividade de cada um.
O universo do imaginário permite que devaneios de muitos sejam compartilhados por consumidores culturais de todas as partes do mundo, o que justifica boa parte de seu êxito na forma de bestsellers e sucessos de bilheteria. A análise parte da idéia de que o Homem já nasceu no âmbito das histórias, pois o próprio nome de cada um já traz em si uma bagagem que remete à trajetória de sua família, dos pais e de seus antepassados.
Nos contos de fadas os personagens eram mais singelos, construídos em torno das tradicionais dicotomias – de um lado o bom, do outro o mau. As criações modernas apresentam figuras intrincadas, psiquicamente densas, cultivam uma existência interna e são ambíguas. O ogro Shrek é exemplo de modelo dessas figuras contemporâneas.
As mulheres representadas por Alice no País das Maravilhas. É a primeira protagonista feminista significativa da história literária, que provoca uma ruptura do feminino com os padrões machistas da época. A partir  desse conto é possível avaliar o modo como a fantasia se adapta às características de cada período histórico.
Homer Simpson representa a perda de território da paternidade moderna. Ele demonstra a mais completa carência de controle do chefe de família atual; o personagem não detém mais o domínio de seus familiares, é imaturo, isento de responsabilidades, o contrário dos pais antigos, simbolizados pelo patriarca da série Papai Sabe Tudo, em cartaz na década de 50.

Entrevista dos Corso ao Jornal do Comercio para Priscila Pasko, em 16/11/2010:

JC - Feira do Livro - Qual é a utilidade da fantasia?
Mário Corso - É nos rechear. Nós temos uma série de experiências, mas não se alcança isso na escola, no convívio do dia a dia. A gente rouba da literatura maneiras de ser. As novelas, os filmes e a literatura contam histórias de personagens com os quais você se identifica. A fantasia tem um papel formador na subjetividade
Diana Corso - Se algo nos toca é porque já faz parte da gente de alguma forma, mas não faz parte da nossa consciência. A literatura tem esta possibilidade de revelar fantasias que não são inconscientes e, através da literatura, a gente pode sonhar com ela e elaborar coisas que estão dentro de nós e a gente desconhece.

JC - Feira do Livro - Quando a fantasia começa a ser adotada por nós?
Diana – Ao longo de todo o desenvolvimento, desde muito pequenos, a gente já vive dentro do discurso de outra pessoa, do nosso pai, nossa mãe. A primeira grande história da nossa vida é o nosso nome, porque ninguém nos chama de determinada forma por acaso. Todo nome já contém uma história que já é depositada. E, além da história dos pais, tem a da nossa família. A gente nasce e cresce banhado em histórias. E isso é fantasia.
JC - Feira do Livro - Qual diferença dos antigos contos de fadas com as histórias contemporâneas?
Mário - Antes, os contos de fadas usavam personagens planos: o bom é bom e o mau é mau. Eles não tinham variações sobre isso. Eles são contos para subjetividades infantis. Hoje, só as crianças muito pequenas pensam assim. A partir do momento que elas crescem, beneficiam-se do romance moderno, onde o personagem é complexo, tem densidade psicológica, tem vida interior e é ambíguo. Um exemplo é o Shrek.
JC - Feira do Livro - Essa ambiguidade é positiva?
Diana - A criança precisa desta complexidade, ela precisa ver resgatada a sua ansiedade. Contemporaneamente, nós damos ouvido às crianças. Não é que elas tenham se tornado complexas. Elas sempre foram. E essa complexidade, que hoje pode ser exposta, deve ser refletida nos seus personagens. Por isso, o Shrek, por exemplo, é um ogro com problemas, antissocial, com problemas de timidez e autoestima. Ele tem dúvidas, ele vacila, assim como os pais das crianças contemporâneas.
JC - Feira do Livro - As fantasias contemporâneas acompanharam a conquista da mulher na sociedade?
Diana - No livro, dedicamos um capítulo à Alice no País das Maravilhas. Nele a gente lembra que Lewis Carroll criou a primeira grande heroína feminista da história da literatura. Alice é extremamente irreverente. Na interpretação de Tim Burton, vemos uma mulher na via de escolher os seus próprios caminhos. Um rompimento absoluto com os papéis tradicionais até então impostos. A fantasia é mutável, ela vai se transformando conforme as necessidades de cada época.

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