quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Balada de Narayama

A Balada de Narayama, Japão, 1983, 128 min.
2003, 95 min.
Fim do século XIX, em meio à pobreza e miséria que causavam guerras e emigração para terras estrangeiras, em algumas regiões do Japão, numa luta dura pela sobrevivência, instituiu-se uma tradição amarga: ao completar 70 anos de idade, os moradores dos humildes vilarejos devem subir ao topo da montanha local, uma região sagrada e, como elefantes velhos, devem esperar pela hora da própria morte, sozinhos.
Em A Balada de Narayama o olhar mais "natural" para a morte humana aparece entre os habitantes da pequena aldeia. Apesar da maioria dos personagens parecer encarar a morte com tranqüilidade, e até alívio já que a região é marcada pela escassez de alimento, e cada boca a mais torna-se um peso, o filme mostra também o sofrimento do filho da velha Orin em aceitar a tradição. O próprio marido de Orin desaparecera quando sua mãe estava com 69 anos, próximo ao momento de ser levada a Narayama. A personagem diz ao filho que "regras são regras, e o sentimento tem que ser deixado de lado" para que ele cumpra a tradição na qual o tempo cultural se sobrepõe ao tempo biológico. Afinal, Orin, uma senhora ativa, trabalhadora, com seus trinta e três dentes, apresentava uma vitalidade invejável.

Processo psicológico do assédio moral no trabalho

Hoje o trabalho é fonte de profunda angústia para muitas pessoas. Esse sofrimento é trazido diariamente aos consultórios. O assédio moral difere de outros tipos de conflito porque é caracterizado por ações antiéticas. Pode ser multilateral, vertical, horizontal ou ascendente.
Por meio de diversas humilhações, a vítima é engendrada num processo de desestabilização que a priva de sua própria personalidade, ao mesmo tempo em que a isola de outras pessoas que possam lhe ajudar a refletir.
Já com a vítima dilacerada, um verdadeiro “ritual” pontuado de estratégias de violências e de agressões aplicados em doses impactantes. A trama comporta um inegável elemento destrutivo uma vez que a vítima não tem mais resistência para reagir e o agressor usa e abusa dos seus poderes para manipular o indivíduo.
O assédio moral repercute na família, com separações conjugais, abuso de drogas, lícitas ou ilícitas, dentre outras.
A família pode oferecer o apoio para aquele que sofre. A empresa deve combater as formas de discriminação, assédio moral e sexual e propagar o respeito à dignidade e à cidadania, mas a pessoa deve procurar ajuda especializada.
A psicoterapia é um espaço favorável para elaboração de questões emocionais, um lugar/tempo/modo privilegiado de estabelecer diálogos construtivos e abrir novos canais de comunicação.

Cláudia M. Martins
Psicóloga

Serviço:
Atendimento Psicológico – Tijuca, Metrô São Francisco Xavier, Rio de Janeiro
Tel: 9259-1729
Email: clamedmar@gmail.com

Sobre o "Medo Liquido" de Bauman


Zygmunt Bauman utiliza o termo “líquido” para nomear questões da atualidade. No livro “Medo Liquido” Bauman, trabalha com esta idéia de liquidez, pois a imagem de um medo que escorre e penetra em pequenos espaços parece ser cada vez mais presente na sociedade contemporânea.

Para Bauman, em uma sociedade “sólida”, as instituições são estáveis e o indivíduo pode se apoiar nelas. Em uma sociedade líquida, os laços sociais são fluidos, incertos, as posições sociais são inseguras e a perda de referências estariam gerando medos difusos, confusos, flutuantes, principalmente pela dificuldade de estabelecimento de estratégias a longo prazo.

Bauman descreve três tipos básicos de perigos dos quais derivariam todos os medos.

O primeiro seria os perigos que ameaçam o corpo e as propriedades, um segundo tipo, mais geral, ameaça a durabilidade da ordem social, como, por exemplo, o emprego, a segurança, por fim, os perigos que ameaçam o lugar da pessoa no mundo, sua posição social, sua identidade, ou seja, o medo da exclusão.

Detalhando esses tipos de medo, ele aborda o pavor da morte ou o “medo original”, o medo do mal, o horror do inadministrável e o terror global.

O medo da morte é visto por Bauman como um medo inato, endêmico, do qual não se pode fugir. Esse medo seria, provavelmente, o preço cobrado pela nossa humanidade. Ser humano é tomar consciência da morte, de sua inevitabilidade e da “apavorante tarefa de sobreviver à aquisição desse conhecimento” (p. 45).

O medo e o mal são inseparáveis como irmãos siameses e talvez até mesmo dois nomes de uma só experiência. Explorando a questão “o que é o mal?”, o autor faz a distinção entre os males naturais (como terremotos, inundações e outros desastres) e os males morais; os primeiros aleatórios e imprevisíveis e os segundos marcados pela intencionalidade ou premeditação, sendo estes representados na atualidade pelas diversas formas de extermínio praticadas principalmente no século XX e pelo terrorismo onipresente no século XXI.

Bauman detalha o “horror do inadministrável”, provocado principalmente pelo potencial de autodestruição alcançado pela sociedade, potencial este presente principalmente nas armas desenvolvidas e acumuladas desde a guerra fria e que já seriam suficientes para exterminar a humanidade, e elas não são as únicas a nos ameaçarem cotidianamente, pois hoje somos também responsáveis pelos males tidos como “naturais”, já que muitas das catástrofes naturais são devidas ao desequilíbrio gerado pela humanidade no processo de modernização e que, embora pareça ser um mal distribuído equitativamente e de modo aleatório, até o momento a realidade tem se encarregado de desmentir essa aparência, atingindo predominantemente a população pobre.

Do furacão Katrina, que dizimou prioritariamente os negros pobres de Nova Orleans, às enchentes e desmoronamentos em favelas do Brasil, vemos cada vez mais a confirmação desta tese.

Há ainda o medo do terror global, que atinge a todos por meio da globalização. Se globalização é inelutável e irreversível e tudo o que se passa em uma parte qualquer do mundo afeta a vida das pessoas no mundo inteiro, nenhum país, por mais vasto, soberano ou rico que seja, pode proteger totalmente a condição de vida, a segurança, a prosperidade, o modelo social ou a sobrevivência de seus habitantes. A globalização deixou de estar ligada somente ao capital financeiro, às comunicações e ao comércio e já se estende também à criminalidade, ao tráfico de drogas e ao terrorismo e, para provocar ainda mais medo, as forças de ação política efetivas são ainda incapazes de agir fora do âmbito local.

Bauman não acredita na possibilidade de buscar soluções locais para lutar contra os produtores globais do medo. Para ele, as saídas locais servirão sempre como paliativos, pois não estarão em condições de corrigir as conseqüências negativas da globalização.

As ferramentas para a solução dos males globais não existem, precisariam ser criadas e a segurança só voltará quando a humanidade recuperar o controle sobre as forças que definem nossa condição.

O sentimento de impotência persistirá porque “não parecemos mais estar no controle, seja sozinhos, em grupos ou coletivamente, dos assuntos de nossas comunidades, da mesma forma que não estamos no controle dos assuntos do planeta” (p. 167).

Para Bauman, pode-se tomar medidas locais para minimizar os impactos advindos do processo mundial, como, por exemplo, promover a cooperação, a amizade e a compreensão mútua entre os cidadãos, combatendo a xenofobia, o preconceito e as desigualdades, preservando recursos naturais, como a água potável, por exemplo, proteger as áreas essenciais para a vida, como a produção de alimentos e saúde, da invasão predatória e desigual das indústrias.

Concordo com Bauman ao dizer: “O único início promissor de uma terapia contra o medo crescente e, em última instância, incapacitante é compreendê-lo, até o seu âmago – pois a única forma promissora de continuar com ela exige que se encare a tarefa de cortar essas raízes” (p. 229).